Clara Almeida Santos: a pessoa de quem é impossível não gostar
Aos 41 anos, Clara é Vice-Reitora da Universidade de Coimbra, professora, ex-jornalista e mãe. Entre a comunidade estudantil é reconhecida como uma pessoa extremamente sorridente e preocupada com os outros.

2 de maio de 2018. 12 horas. Seguimos mais um grupo de turistas que por estes dias chegam a Coimbra. Vão visitar o Palácio Real, situado na Faculdade de Direito, outrora aposento do rei e palco de acontecimentos emblemáticos para a História Nacional. Somos conduzidos, através de um gentil funcionário, até à Sala das Armas, um dos três espaços visitáveis do paço. Nela encontra-se uma porta que passa despercebida a muitos dos visitantes, até porque normalmente é ocultada por
uma cortina vermelha. Muitos desconhecem o que por detrás dela podemos encontrar.
Imergirmos num amplo corredor de madeira coberto por uma passadeira vermelha, depois de atravessarmos a porta. As poltronas que encontramos ao longo do percurso assim como os azulejos azuis e brancos que preenchem metade das paredes teletransportam-nos para o passado. Cheira a antigo. Tudo parece ter sido cuidadosamente conservado.
Passamos pelo gabinete do Reitor, que se encontra posicionado por cima da porta férrea. Dez metros à frente encontramos o da Vice-Reitora da Cultura, Comunicação, Património e Antigos Estudantes, Clara Almeida Santos. Recebe-nos com um sorriso contagiante no seu simples gabinete. A decoração e ostentação a que estávamos habituados no corredor não chegaram até aqui. Encontramos apenas paredes brancas e móveis pretos. O único apontamento de cor que nos chama a atenção é a jarra de flores que está em cima do móvel mais baixo da sala. Clara desloca-se da sua secretária para uma mesa redonda ao centro da sala, onde recebe quem a visita.
"Eu não sou Vice-Reitora, eu estou Vice-Reitora", começa por alertar Clara. Foi um cargo que aceitou em 2011 com a ideia de ser uma situação temporária, embora já esteja no seu segundo mandato.
Maria Clara Moreira Taborda de Almeida Santos nasceu em 1977, em Coimbra. Cresceu numa família numerosa, constituída por mais três irmãs. Acredita que teve uma infância muito feliz por dois motivos: conseguiu brincar na rua sem apreensões, o que atualmente já não é possível, e nunca se teve de preocupar com a ausência de comida à mesa como outras crianças da sua idade.
Clara sempre teve a certeza que queria ser arquiteta. Até que no décimo ano o gosto pela escrita fê-la duvidar das suas convicções. Por sugestão da mãe optou por continuar a formação na área das ciências. Foi uma opção estratégica uma vez que se decidisse, no final do décimo segundo ano, que efetivamente queria ir para uma área das humanidades não teria em falta conteúdos imprescindíveis para continuar, já que era uma apaixonada por português e o inglês e o francês aprendia fora da escola. E foi isso mesmo que aconteceu. No final do primeiro período do décimo segundo ano, Clara teve contacto com alguns arquitetos profissionais que considerou serem excelentes. Começou a questionar-se se conseguiria ser tão boa como eles e acabou por desistir da área das ciências. No segundo período tinha mudado de escola e já estava a ter literatura portuguesa, francês e inglês. "Portanto, sou uma arquiteta frustrada" revela ironicamente entre gargalhadas.
O gosto por contar histórias levou Clara a optar pelo o curso de jornalismo. Agostinho, pai de Clara, não apoiou a decisão da filha. Queria que ela fosse médica tal como ele. Sempre que o questionavam em que curso andava a filha ele respondia: "não é bem um curso, é um recurso", revela Clara ao mesmo tempo que emita as expressões faciais do pai e se ri.
Após terminar o curso em Coimbra, Clara rumou até Lisboa. Foi estagiar no Canal de Notícias de Lisboa, primeiro canal português que dava vinte e quatro horas por dia notícias. Com a energia e a alegria que lhe é característica, Clara revela que começou a estagiar em agosto e em setembro, quando arrancavam as emissões do canal, foi convidada para integrar a equipa de jornalistas. "Fiquei logo ligada à cultura o que foi muito bom, assim pude conciliar duas paixões: o jornalismo e a cultura", confessa com tanto entusiasmo que parece que está a viver o momento novamente.
Após a venda do Canal de Notícias de Lisboa à SIC, Clara passou a integrar a equipa responsável pela produção de conteúdos para a página online da SIC. Os turnos eram muito complexos para quem queria constituir família, como Clara. Então, a atual vice-reitora decidiu regressar a Coimbra. Depois de fazer mestrado e algumas investigações, tornou-se professora de jornalismo e colaboradora na página Web da Universidade. Ainda assim Clara revela que tem "imensas saudades do jornalismo" e que pondera regressar à atividade. Joana Tereso, coordenadora do Ensino Superior, que trabalha com Clara há mais de quinze anos considera que a vice-reitora acaba por ter tanto trabalho que essa necessidade se suprime. Acredita ainda "que o jornalismo sente mais falta de Clara do que ela do jornalismo".
Questionada sobre o que a fará mais feliz, Clara não tem dúvidas: os filhos. "O dia mais feliz da minha vida foi quando nasceu o meu primeiro filho" diz com ar ternurento como se estivesse a visualizar o momento em que viu o filho pela primeira vez. A Vice-Reitora admite ainda que "gosta de sentir que os outros à sua volta estão felizes" porque isso contribui para a sua felicidade. Joana Tereso também o confirma. "Ela incute bom ambiente na equipa com quem trabalha e preocupa-se com cada um de nós como se fossemos membros da sua família", revela.
Pelos corredores da universidade, Clara nunca passa despercebida. Muitos podem não a conhecer, mas todos sabem que é uma pessoa bem-disposta e sorridente, porque isso transparece à sua passagem. O mais complicado é estabelecer contornos de relação com Clara, revela-nos Joana Tereso. "A amabilidade com que trata qualquer um bem como o sorriso que traz todos os dias contagiam toda a gente". Para além disso "é uma pessoa intelectualmente superior, determinada, exigente, rigorosa e com uma capacidade de trabalho acima da média", diz-nos Joana Tereso que revela ter uma "grande amizade e admiração" por Clara.
Os alunos também a recordam como uma professora muito sorridente, energética e bem-disposta. Maria Francisca Romão, aluna do segundo ano da licenciatura de jornalismo e comunicação é uma delas. Foi aluna de Clara no ano passado e considera-a a sua professora preferida. "Notava-se que ela gostava mesmo do que fazia, às vezes a matéria até não era interessante, mas a forma como ela explicava fazia daquilo a melhor coisa de sempre", admite.
A unanimidade que envolve tão boas opiniões acerca de Clara é a prova de que é uma pessoa de quem é impossível não gostar.
| Perfil realizado em maio de 2018